A Associação Floresta Protegida (AFP) é uma organização indígena do Povo Mẽbêngôkre - Kayapó que representa aproximadamente 3 mil indígenas de 31 aldeia situadas nas Terras Indígenas Kayapó, Mekragnoti e Las Casas, no sul do estado do Pará. A AFP surgiu em 1998 e atua através do desenvolvimento e execução de projetos estratégicos, em 4 linhas ação: Cultura e Conhecimento, Atividades Produtivas e Geração de Renda, Monitoramento Ambiental e Territorial e Fortalecimento institucional e político.
"O que é a Associação Floresta Protegida? É nossa organização para proteger a floresta que é onde nós indígenas vivemos. Queremos a floresta em pé, o rio limpo, fartura de peixes e caça para comer. Nós queremos ter o mato em pé para buscar nossos remédios caseiros para cuidar da nossa saúde. Por que a gente quer essas coisas? É para o futuro de nossos filhos, nossos netos, bisnetos. Eles vão chegar para viver nestes lugares e também vão precisar se alimentar e ver todas as coisas que deixamos para eles." Oro Muturua, Presidente da AFP
Promover a cultura e a autonomia política e econômica do povo mebengokre, a proteção e conservação dos territórios tradicionais, e a defesa dos direitos indígenas, tendo como princípios norteadores de sua atuação a legalidade, a sustentabilidade, o diálogo e a cooperação das comunidades representadas.
Veja nosso Estatuto Social:
https://florestaprotegida.org.br/biblioteca/60c0e2683cb7cd757ed71a4e
Chamamo-nos Mẽbêngôkre, nome que pode ser traduzido como "Povo da morada das águas”. No passado, outros povos, de língua Tupi, nos chamavam de "Kayapó", nome que se popularizou entre os kubẽ (não-indígenas) e como ficamos mais conhecidos. Hoje em dia nós mesmos nos chamamos de Kayapó algumas vezes, embora Mẽbêngôkre seja nossa autodenominação e a forma pela qual preferimos ser chamados.
Falamos uma língua da família Jê e vivemos em aldeias com tamanhos variados, reunindo de 50 a 600 pessoas. Habitamos uma região de transição entre o cerrado e a floresta amazônica, assim como a própria floresta. O centro da aldeia - ngàipôk-ri é o centro de nosso universo cosmológico. É lá que fica a Casa dos Guerreiros - ngà-be, um espaço que acolhe as diferentes organizações dos homens, além de ser um local de grande importância para a vida política e ritual da aldeia. Tradicionalmente o centro da aldeia é rodeado por um anel de casas, que é um espaço protagonizado pelas mulheres e suas associações cerimoniais, além das suas atividades cotidianas com o cuidado das crianças. Na medida em que nos distanciamos da aldeia, encontramos os espaços onde brincam as crianças, o rio, nossas roças, campos de caça e um vasto território repleto de biodiversidade que nossos antepassados ajudaram a criar com sofisticadas técnicas de manejo florestal.
Dedicamos grande parte de nosso tempo e energia à organização e execução de rituais, precedidos de caçadas ou pescarias coletivas. A pintura corporal faz parte do cotidiano da aldeia, sendo esta atividade desempenhada pelas mulheres nire - mulheres - desde quando se tornam mães e representa uma característica bem marcante da nossa cultura. Temos muito orgulho da beleza de nossa pintura, dos nossos rituais e da nossa arte!
Desde o nosso encontro com o homem branco, passamos a lutar ativamente pela garantia de nossos direitos e territórios tradicionais, o que nos garantiu a posse de nossa Terra e nos responsabilizou pela conservação de uma grande área de florestas e cerrados, que contribui diretamente para a conservação da biodiversidade, assim como para a manutenção do regime de chuvas e do clima em todo o planeta. Na nossa mitologia, os índios, as plantas, os peixes e outros animais, transformam-se, criando assim uma importante relação de parentesco. Situações envoltas de grandes aventuras que só os mais velhos sabem contar bem. Essa cosmologia orienta nossa forma de entender e agir no mundo e a natureza.
Os Mẽbêngôkre - Kayapó habitam hoje em mais de 75 aldeias localizadas em seis Terras Indígenas (T.I.s Badjônkore, Baú, Capoto/Jarina, Kayapó, Las Casas e Menkragnoti) que somam uma área de cerca de 11 milhões de hectares no centro-sul do Pará e norte do Mato Grosso. Nossas Terras foram atravessadas e estão resistindo ao que é conhecido como “arco do desmatamento”. Sofremos nas últimas décadas uma enorme pressão com a chegada de estradas, hidrelétricas, com a abertura de grandes fazendas, com o garimpo, a exploração de minérios e madeira. Neste contexto, temos procurado, junto a nossas organizações, valorizar os conhecimentos indígenas e o uso sustentável da floresta e do cerrado.